sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Asas



Como um gafanhoto sem seu bando eu fui a praga da plantação.
Voei por toda a extensão do campo, despedacei toda flor e comi cada folha que meu estômago pôde digerir.
Fui, vi, senti e destruí.
Agora nada mais sobrou.

Como um pássaro sem companheira, cantei com toda força para o sol.
Fiz ninho na mais bela árvore, choquei meus proprios ovos e comi cada fruta cuja semente pude expelir.
Fui, vi, senti e plantei.
Agora nada mais crescerá.

Como um urubu sem olfato, minha presa esperei morrer.
Subi o mais alto que pude, cobicei a carne fresca e comi da mais impura podridão.
Fui, vi, senti e matei.
Agora nada mais morrerá.

Agora serei águia, sem bico para arrancar e sem ninho para abandonar.
Com meus olhos buscarei, com minhas asas planarei e com minhas garras rasgarei.
Irei, verei, sentirei e caçarei.
E então nada mais haverá para caçar

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