"A tão aclamada palavra que representa a constatação do cometimento de um erro por parte de seu autor, que traz a reconciliação quando concede ao próximo o direito de estar correto, que redime o peso e o valor dos atos passados, que introduz o incômodo delicadamente e que alivia o sofrimento de um choque acidental, é também a palavra que evoca os valores que permeiam deliberadamente as entranhas de toda a cultura desta nação. Isso é, pois, o resultado da constante conjugação das definições precedentes às mais diversas ocasiões."
A introdução foi somente para dizer que no Brasil tudo se desculpa. Todos se desculpam; isto é, deixam de ter culpa (mesmo quando efetivamente a têm). Se alguém fuma em local fechado é o dono do estabelecimento que paga a multa. Se o carona anda sem cinto de segurança é o motorista que comete infração. Se alguém rouba é culpa da escravidão, que criou a desigualdade social. E se a desculpa não é dada logo após o ocorrido, ainda que atrase ela virá.
Todos devemos ter orgulho de nossos atos, mesmo que no futuro venhamos a alterar nossos valores. Afinal, nós agimos com nosso poder de escolha diante de situações onde são considerados os fatores internos e externos. Não existe "erro", mas existem consequências, e nós devemos assumir a responsabilidade por elas.
